Entrevista: Pedro Guidara – MetaLocation

Pedro Guidara Júnior, da empresa MetaLocationLeia agora a décima quinta entrevista da série onde estamos conversando com profissionais da área de Geoprocessamento que atuam em diferentes regiões do Brasil e do mundo. Estão relatando um pouco sobre sua própria história no mercado, comentando sua visão sobre o cenário das Geotecnologias onde vivem, e algo mais. Nosso entrevistado da vez é Pedro Guidara Júnior, da empresa MetaLocation.

Pedro Guidara JrPedro Guidara Junior é Mestre em Engenharia de Transportes– Informações Espaciais pela Escola Politécnica da USP em 1999. Engenheiro Cartógrafo graduado pela FCT-UNESP em 1990. É Membro da Comissão de Estudo de Serviços Topográficos (CE-02:006.17) da ABNT, diretor-secretário do Departamento de Engenharia de Agrimensura e Geomática do Instituto de Engenharia. Membro da IGS (International Geospatial Society/Global Spatial Data Infrastructure). Instrutor do Curso Online Controle de Qualidade de Mapas e Dados Espaciais. Editor do Blog GeoDICAS. Diretor da Metalocation.

1. Há quanto tempo você trabalha com Geotecnologias e como foi seu primeiro contato com esta área tão empolgante?

Há 22 anos e meu primeiro contato foi na faculdade nas aulas de topografia em Presidente Prudente. Posso dizer que devido à área de Geoprocessamento ser multidisciplinar e o mercado ser pluri-segmentado (Governo, Defesa, Utilities, Telecom, Ambiental, Transportes, BI, CRM, Logística e Segurança) o profissional demora muito para entender a grandeza desta área.

2. Você fez algum curso na área de Geoprocessamento? (Pode também citar onde, e se possível algumas características do curso)

Sim, fiz Engenharia Cartográfica na UNESP-PP e Mestrado na Escola Politécnica da USP em Engenharia de Transportes com foco em Informações Espaciais. O Curso da UNESP é orientado e dirigido por conceitos e métodos à luz de critérios rígidos. Assim, tive uma carga horária intensa e extensa de disciplinas como Topografia, Geodésia, Fotogrametria, Sensoriamento  Remoto e Cartografia e principalmente Ajustamento de Observações a qual considero de extrema importância para controlar a qualidade de Levantamentos Topográficos, Geodésicos, Fotogramétricos e Georreferenciamento de Imóveis Rurais (Lei 10267).

Já na USP devido ao advento do GIS, LBS e da Cartografia Digital, tive oportunidade de estudar Modelagem Conceitual e Lógica de Dados Espaciais, disciplinas imprescindíveis no Projeto de Banco de Dados Espaciais para GIS e LBS, além de Criação de Metadados e Qualidade de Dados Espaciais, e minha dissertação de mestrado teve como título: Aspectos Peculiares de Projeto de Banco de Dados Geográficos em ênfase na extração de Metadados. Embora o curso de pós-graduação da USP esteja inserido no Depto. de Engenharia de Transportes permite o ingresso não só de engenheiros, mas também de geógrafos, geólogos, tecnólogos, arquitetos, matemáticos, estatísticos.

3. Qual sua visão sobre o cenário atual das Geotecnologias no Brasil? Considera que há boas perspectivas para os profissionais?

Hoje o profissional pode atuar em várias frentes devido ao mercado ser pluri-segmentado, mas considero 4 frentes como pilares:

  1. Cadastro Territorial/Ambiental e Georreferenciamento;
  2. Mapeamento Sistemático e Topográfico
  3. GIS, LBS, Geomarketing, Análise Espacial e Cartografia Temática
  4. Desenvolvimento e Gestão de Negócios (Vendas, Marketing, Modelos de Negócios, Inovação, Desenvolvimento de Novos Produtos) sendo este último ainda pouco explorado na Academia e no Brasil.

4. E de forma especifica no Estado de São Paulo? Como você vê a área de Geotecnologias em seu estado?

Aqui no Estado de São Paulo se concentra o maior mercado fornecedor de Geomática, mas quero ressaltar que há demanda por serviços e profissionais nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

5. O que você acha que seja fundamental para que um profissional consiga um bom espaço no mercado de trabalho em Geoinformação?

Inglês Fluente, Comunicação (Vendas, Marketing, Liderança, Negociação, Networking, Falar em Público e Escrever Bem) e Iniciativa de Fazer. Coloquei apenas estas mais comportamentais, propositadamente, pois considero que o profissional pode adquirir, na área técnica, mais facilmente, conhecimentos por meio de cursos, livros, Web e experiência prática.  Notem como Comunicação é uma disciplina multifacetada e abre um mundo novo ao profissional.

Entrevista: Pedro Guidara – MetaLocation

Também gostaria de ressaltar que o profissional deve buscar e pesquisar recursos para desenhar seu Plano de Carreira na opção de empregado, ora buscando um Coach especializado, ora um Mentor (padrinho) mais velho que já atue no seu mercado e se disponha a orientar ou até um conselheiro para assuntos mais específicos e pontuais. E também cuidado com o excesso de informações e títulos, o profissional não é pago pelo que sabe!  E sim pelo que faz.

E na opção de empregador ou empreendedor  buscar desenvolver desde  cedo, se possível durante a graduação ou na pós, um Produto, assim deve frequentar cursos e ler bons livros de empreendedorismo, vendas técnicas e marketing e também contar com apoio de profissionais especializados.

6. Com quais softwares para Geoprocessamento você tem trabalhado, desde o início de sua carreira até hoje (comerciais e livres)?

ArcGIS, Idrisi, Surfer, TNT MIPS, Manifold System, SGI e Spring. Cabe ressaltar que os softwares GIS não evoluiriam ou pouco evoluíram na primeira e principal etapa do Projeto de Banco de Dados Espaciais que é a Modelagem Conceitual.

Esta etapa vai garantir uma mesma visão dos dados, um mesmo entendimento pela equipe, produz a documentação mais importante do GIS e é coerente com os requisitos da aplicação. Assim é possível saber quando precisamos atualizar os dados, onde precisamos melhorar a qualidade ou incrementá-los, enfim valorando os dados da empresa.

7. Poderia comentar um pouco sobre como as Geotecnologias estão diretamente envolvidas com seu trabalho atual?

Hoje dirijo a Metalocation que é uma empresa focada em engenharia de projetos de Cartografia e Geoprocessamento, e noto que os usuários e fornecedores de Geoinformação necessitam de apoio na concepção, análise de requisitos, modelagem de dados para GIS, LBS e também nas especificações técnicas para Mapeamento Sistemático, Topográfico, Cadastro Territorial e Ambiental.

Também vale acrescentar que  muitos engenheiros civis ainda não sabem o que é um Modelo Digital de Terreno e  as potencialidades da Geoinformação para “startar” Anteprojetos, Projetos Básicos e Executivos e As Built da Construção Civil, principalmente agora que o país vive uma onda de obras para infraestrutura.

8. O que você diria sobre as potencialidades do uso de softwares livres para Geoprocessamento?

Cumprem um papel regulador e sem dúvida equilibram o mercado, possibilitando começar um projeto ou aprender GIS com poucos recursos. Talvez aqui precisássemos de mais empresas prestadoras de serviços de suporte técnico e desenvolvimento de aplicativos em tecnologias livres.

9. Comente um pouco para nós sobre a importância da qualidade de dados geoespaciais tem em um Projeto na área de Geotecnologias.

Muitos profissionais acham que Qualidade de Dados é algo muito sofisticado, complicado que permeia o dia-a-dia apenas de estatísticos e cientistas, mas na verdade não o é e se baseia apenas em 2 segredos. O primeiro segredo é especificar o conjunto de dados e o segundo é controlar, executando o método mais adequado de levantamento dos dados ou de inspeção final destes dados.

Vejamos um exemplo prático: se especificamos que naquele nível de informação os polígonos devem estar fechados, podemos usar um método simples (visual/manual) de verificar visualmente os polígonos e caso abertos fechá-los manualmente ou ainda se utilizar de algum método semiautomático (funcionalidade) do software CAD ou GIS que controle a consistência geométrica. E este princípio de especificar e controlar vale tanto para os casos mais simples até os mais específicos que envolvem análises estatísticas.

10. Você gostaria de fazer algum comentário adicional sobre o tema de nossa entrevista?

Queria agradecer o convite  da entrevista e incentivar todos a pesquisarem e principalmente a iniciarem projetos que se tornem produtos. Aproveitando convido todos a conhecer o Blog GeoDICAS e também a postar lá artigos, dicas e métodos de Geomática.

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Queremos agradecer ao Pedro Guidara por nos conceder esta entrevista que certamente agregou valor ao conteúdo de nosso site, em especial nesta série de entrevistas.

O que vocês acharam desta postagem? Já conheciam o trabalho desenvolvido por este relevante profissional da área de Geotecnologias? Deixem seus comentários.

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Anderson Medeiros

Anderson Medeiros

Graduado em Geoprocessamento pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB). É o autor do site https://clickgeo.com.br que publica regularmente, desde 2008, artigos dicas e tutoriais sobre Geotecnologias, suas ferramentas e aplicações.
Em 2017 foi reconhecido como o Profissional do ano no setor de Geotecnologias. Atua na área de Geoprocessamento desde 2005.

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5 respostas

  1. Parabéns Pedro por compartilhar conhecimentos de qualidade, em rede mundial, abraço.

  2. Conheci hoje um pouco do trabalho do Pedro e acabei vindo parar aqui nessa entrevista para o seu blog. Tudo que ele diz é muito elucidante e me faz refletir sobre minha própria postura. “O profissional não é pago pelo que sabe! E sim pelo que faz”. Isso nos faz pensar muita coisa sobre o abismo que há entre a acadêmia e o mercado de trabalho. A primeira só valoriza quantidade daí o cara chega no mundo real e não entende como as coisas realmente funcionam.

    Finalmente, obrigado aos dois pela oportunidade de ler esse texto.

  3. Parabéns por mais esta entrevista com um grande profissional !
    O Pedro, que eu saiba, foi um dos primeiros pesquisadores a estudar sobre Metadados no Brasil, e a Dissertação de Mestrado dele é uma referência bibliográfica fundamental neste assunto !
    Também o Blog dele vem causando uma transformação na área de Geotecnologias no País, por abordar um assunto no qual raramente encontramos informações disponíveis, principalmente em língua portuguesa, que é “Qualidade de Dados Espaciais”.
    Muito boa a entrevista !

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Sobre Anderson Medeiros

Ele já foi reconhecido como o Profissional do Ano no Brasil no setor de Geotecnologias. Graduado em Geoprocessamento, trabalha com Geotecnologias desde 2005. Já ministrou dezenas de cursos de Geoprocessamento com Softwares Livres em diversas cidades, além de outros treinamentos na modalidade EaD. Desde 2008 publica conteúdo sobre Geoinformação e suas tecnologias como QGIS, PostGIS, gvSIG, i3Geo, entre outras.

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