Entrevista: Arlete Correia Meneguette – UNESP

Arlete Correia MeneguetteConfira agora a sexta entrevista da série onde estamos entrevistando profissionais da área de Geotecnologias que atuam em diferentes regiões do Brasil e do mundo. Eles estão contando um pouco de sua história no mercado de trabalho, compartilhando sua visão sobre o cenário do Geoprocessamento onde vivem, e algo mais. Nossa entrevistada da vez, a primeira mulher, é a professora Dra. Arlete Meneguette, da Universidade Estadual Paulista (UNESP).

Arlete Correia MeneguetteA Profa. Dra. Arlete Correia Meneguette possui graduação em Engenharia Cartográfica pela Universidade Estadual Paulista (1982), PhD em Fotogrametria pela University College London (1987), Licenciatura Plena pela Universidade do Oeste Paulista (1989), Especialização em Avaliação a Distância pela Universidade de Brasília (1999) e Livre Docência em Cartografia pela Universidade Estadual Paulista (2001). É docente e pesquisadora do Departamento de Cartografia da Unesp – Campus de Presidente Prudente, desde 1987. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Cartografia, atuando principalmente nos seguintes temas: Cartografia Multimídia, Visualização Cartográfica, Sistemas de Informações Geográficas (SIG), Educação a Distância (EAD) e Empreendedorismo. Membro do Grupo de Pesquisa Geotecnologias e Cartografia aplicadas à Geografia (GEOCART), certificado pelo CNPq. Mapeadora Voluntária do Google Map Maker, Nokia Map Wiki, OpenStreetMap e Wikimapa. Revisora Especialista Regional (RER) do Google Map Maker.

1. Há quanto tempo você trabalha com Geotecnologias e como foi seu primeiro contato com esta área tão empolgante?

Sou egressa da primeira turma de Engenharia Cartográfica da Unesp – Campus de Presidente Prudente, onde estudei de 1977 a 1982, portanto trabalho com Geotecnologias há 36 anos. Durante a graduação tive aulas de Desenho Cartográfico, Astronomia, Topografia, Geodésia, Fotogrametria, Sensoriamento Remoto e Cartografia, na época em que a tecnologia era majoritariamente analógica. Em 1987 obtive meu PhD em Fotogrametria, no University College London (Inglaterra) sendo que minha tese de Doutorado versou sobre “Exatidão cartográfica e conteúdo de informação de imagens orbitais para mapeamento e atualização cartográfica”. A pesquisa envolveu o desenvolvimento e validação de um Sistema Fotogramétrico Digital, que permitia o georreferenciamento de imagens de satélite e a vetorização de feições planimétricas visando à produção de bases cartográficas atualizadas.

Quando retornei ao Brasil fui contratada como docente no Departamento de Cartografia da Unesp – Campus de Presidente Prudente, onde estou há 26 anos, tendo ministrado as disciplinas de Cartografia, Geoprocessamento, Empreendedorismo, Modelização do Espaço Urbano, orientado Trabalhos de Conclusão de Curso e atuado como Coordenadora de Estágios. Minha tese de Livre Docência, defendida em 2001, relatou o processo de concepção e implementação do “Atlas Interativo do Pontal do Paranapanema”, um produto de informação que integra mapas, imagens de satélite, fotos, textos, gráficos e vídeos, o qual foi disponibilizado em CD-ROM e na Web, tendo sido avaliado por educadores, estudantes e tomadores de decisão. Isso demonstra que as Geotecnologias fazem parte do meu dia-a-dia, seja no ensino, na pesquisa ou na extensão de serviços à comunidade.

2. Qual sua visão sobre o cenário atual das Geotecnologias no Brasil? Considera que há boas perspectivas para os profissionais da área?

O Brasil tem carência de bons profissionais em diversas áreas estratégicas e as Geotecnologias enquadram-se nesse cenário. A informação, principalmente a geoinformação, está no centro do processo de tomada de decisão. O gestor público, o empresário, o empreendedor, o educador, o profissional liberal, o estudante, o cidadão comum, todos nós somos usuários das Geotecnologias, direta ou indiretamente.

Cada vez mais a  geoinformação será parte das aplicações da tecnologia ubíqua, portanto, profissionais competentes (sejam eles de nível técnico, tecnológico ou superior) são necessários para dar conta da crescente demanda não só no Brasil mas no mundo todo.

3. Na sua opinião, o que é fundamental para que um profissional consiga um bom espaço no mercado de trabalho em Geoinformação?

Os profissionais de Geotecnologias precisam ser multiespecialistas, devem saber atuar de forma dinâmica e integradora em equipes transdisciplinares, necessitam cultivar uma rede de contatos e relacionamentos, devem construir competências, aprimorar habilidades e ter atitudes agregadoras, que acrescentem valor aos produtos e serviços.  Devem ter uma postura pró-ativa, ter iniciativa, ética, autonomia, trabalhar de forma cooperativa e colaborativa, oferecer soluções inovadoras e úteis para a sociedade do conhecimento.

Os profissionais precisam estar preparados para atender aos mais variados segmentos de clientes e usuários. Para tanto, precisam se manter constantemente atualizados, fazendo cursos, participando de eventos e palestras, investindo em Educação Continuada e Empreendedorismo.

4. Com quais softwares para Geoprocessamento você tem trabalhado em seus projetos, desde o início de sua carreira até hoje (comerciais e livres)?

O primeiro software de Geoprocessamento que eu utilizei nas minhas disciplinas da Unesp – Campus de Presidente Prudente foi o SAGA (da UFRJ), o qual foi implantado nos nossos laboratórios pessoalmente pelo Prof. Dr. Jorge Xavier da Silva e sua equipe, em 1989. O segundo software foi o IDRISI (da Clark University), para o qual traduzi o tutorial de Inglês para Português e ministrei vários minicursos. O terceiro software foi o SPRING (do INPE), que eu utilizo diariamente para preparar minhas aulas para os Cursos de Graduação e Cursos de Extensão Universitária, para implementar bancos de dados georreferenciados multimídia em minha pesquisa e nos projetos de extensão universitária. Comecei agora a aprender o AutoCAD Map 3D e o AutoCAD Civil 3D (ambos da Autodesk), além do ArcGIS (da ESRI) pois tenho interesse em utilizar o ArcGIS Online no projeto de Geocolaboração.

Já elaborei centenas de Tutoriais de SPRING, sendo que uma das versões está postada em http://www.4shared.com/file/bXIMSalf/nocoes_basicas_spring.html  (SPRING 5.1.6). Com base nesses Tutoriais um dos meus orientandos (Yuri Cavazin, do Curso de Geografia) e eu iniciamos a produção de vídeo-aulas de SPRING. Os Tutoriais mais recentes estão disponíveis em:

Sou favorável ao uso de software livre, aberto e gratuito, pois sou uma entusiasta da colaboração, cooperação e do acesso democrático às Geotecnologias.

5. Atualmente você atua como professora de uma das mais conceituadas Universidades do Brasil. Comente um pouco sobre como as Geotecnologias estão diretamente envolvidas com este trabalho.

Meu projeto de pesquisa do período 2010-2012 versou sobre “Comunicação e Visualização Cartográfica” e o novo projeto para o triênio 2013-2015 é voltado à “Geocolaboração”. Oriento  uma equipe formada por estudantes de Engenharia Cartográfica, Engenharia Ambiental, Geografia, Arquitetura e Urbanismo. Além disso, sou membro do Grupo de Pesquisa “Geotecnologias e Cartografia aplicadas à Geografia”, que envolve uma equipe multidisciplinar proveniente de diversas universidades brasileiras.  Procuro sempre aliar ensino, pesquisa e extensão de serviços à comunidade, adotando uma abordagem empreendedora e holística.

UNESP

Desde 2010  sou mapeadora voluntária e revisora especialista regional (RER) do Google Map Maker,  venho orientando novos mapeadores e disponibilizando tutoriais em parceria com o Portal MundoGEO. Em nossa equipe também elaboramos modelos virtuais 3D  que são publicados no Google Earth e panoramas imersivos 360°x180° que complementam o Google Maps Street View. Outras plataformas de mapeamento colaborativo online que utilizamos são: OpenStreetMap,  Wikimapa e Nokia Map Wiki.

6. Seu nome tem sido frequentemente relacionado com projetos no campo do mapeamento colaborativo. De acordo com sua visão, qual a relevância deste tipo de atividade?

O mapeamento colaborativo, público e participativo favorece o empoderamento e a inclusão digital do cidadão que pode contribuir com seu conhecimento local para a representação de pontos de interesse, vias, parques, rios, edificações de interesse público, dentre outras feições do mundo real, utilizando navegadores GPS (Global Positioning System), sensores móveis e ferramentas de mapeamento na Web. Os “neocartógrafos” podem compartilhar informações sobre os locais onde moram, estudam, trabalham, convivem, seja de forma voluntária intencional ou mesmo através das redes sociais onde a componente locacional está envolvida (por exemplo: Twitter e Facebook).

Mapeamento ColaborativoO resultado é uma contribuição para a sociedade como um todo, pois os usuários podem tomar decisões com base nas informações compartilhadas. Esse é exatamente o gargalo: como aferir a qualidade, como aprimorar a credibilidade e como reduzir a incerteza nesses conteúdos e mapas gerados pelos usuários. Uma das maneiras envolve os próprios usuários que podem avaliar, reportar erros e mesmo efetuar as correções necessárias. Isso envolve, portanto, uma avaliação por pares, como a que eu faço como Revisora Especialista Regional do Google Map Maker. Outra iniciativa que se mostra necessária é a capacitação dos mapeadores voluntários e isso temos feito através de oficinas de mapeamento (MapUps), elaboração de tutoriais e  orientação através de fóruns de discussão e redes sociais.

Nossa experiência voltada à Educação Continuada em Geotecnologias utilizando a Web, que teve início em 1997 com o “Courseware em Ciências Cartográficas” e teve continuidade com o “Curso Online de Geoprocessamento” e “Curso Virtual de Cartografia e SIG”, está sendo reconhecida. Uma demonstração é que no dia 04/02/2013, através de um HangOut no G+, com Sarah Henderson (do Google Earth Outreach), recebemos o convite para ministrar um curso de Google Map Maker, em Buenos Aires (Argentina), no dia 01/03/2013.

Recentemente criamos um Grupo e uma FanPage no Facebook, além de um APP para celular visando oportunizar um espaço virtual de colaboração, cooperação e compartilhamento do conhecimento geográfico.

Atualmente vivenciamos o momento da “Cartografia FOSS” (Free and Open Source Software) e da “Cartografia Ubíqua” (com  acesso a partir de smartphones  e de dispositivos móveis), nas quais o poder do mapeamento não reside somente nas mentes e nas mãos dos empresários e dos profissionais das Geotecnologias, mas está compartilhado com os “prosumidores” (produtores+consumidores).

7. Você gostaria de fazer algum comentário adicional sobre o tema de nossa entrevista?

Parabéns pela iniciativa de registrar depoimentos de pessoas envolvidas com as Geotecnologias e obrigada pelo convite.

___

Queremos agradecer a Dra. Arlete por nos conceder esta entrevista que com certeza agregou grande valor ao conteúdo publicado em nosso site, em especial nesta série de entrevistas. Leia outros tutoriais publicados por ela:

O que vocês acharam desta matéria? Já conheciam o trabalho desenvolvido por esta grande profissional da área de Geotecnologias? Deixem seus comentários.

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Anderson Medeiros

Anderson Medeiros

Graduado em Geoprocessamento pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB). É o autor do site https://clickgeo.com.br que publica regularmente, desde 2008, artigos dicas e tutoriais sobre Geotecnologias, suas ferramentas e aplicações.
Em 2017 foi reconhecido como o Profissional do ano no setor de Geotecnologias. Atua na área de Geoprocessamento desde 2005.

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7 respostas

  1. Parabéns Anderson pela iniciativa. É sempre bacana ler e ouvir a Arlete.
    Abraços,
    Sal

  2. Gosto de ver a empolgação da professora Arlete com a Cartografia. É contagiante!

    1. Você achou a palavra certa Rúbia: “contagiante”!
      Para mim foi um grande prazer ter a Dra. Arlete na turma do último curso online de QGIS que ministrei, uma verdadeira honra.
      Abraço!

  3. A Professora Arlete sempre trabalhou com novas tecnologias e inovação em geociências. Além de seu doutorado em Fotogrametria ser uma referência na área de atualização cartográfica, ela foi pioneira, pelo que me consta, em estudos sobre comunicação cartográfica, Educação a Distância na área de geoprocessamento, produção de conteúdo didático digital em softwares de geoprocessamento, e em mapeamento colaborativo. A sigo, digitalmente, desde o fim de minha graduação, onde tive o privilégio de ser seu orientado, no início dos anos 90. Parabéns pela entrevista !

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Sobre Anderson Medeiros

Ele já foi reconhecido como o Profissional do Ano no Brasil no setor de Geotecnologias. Graduado em Geoprocessamento, trabalha com Geotecnologias desde 2005. Já ministrou dezenas de cursos de Geoprocessamento com Softwares Livres em diversas cidades, além de outros treinamentos na modalidade EaD. Desde 2008 publica conteúdo sobre Geoinformação e suas tecnologias como QGIS, PostGIS, gvSIG, i3Geo, entre outras.

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